A luz no fim do túnel de uma das maiores livrarias americanas se apagou: a Borders está fechando as portas nos Estados Unidos e eu choro aqui no Brasil. Fico triste não somente porque adorava a livraria, mas porque temo ser apenas o topo do iceberg.
Ler é uma experiência incrível e o mais legal dela é que é diferente para cada um. Eu, por exemplo, sou uma leitora de manias ecléticas e leio cada livro de acordo com o que o clima dele me “pede”. Por exemplo, li “
Diários do Vampiro” no sofá da minha casa enquanto uma feroz tempestade caia lá fora e na minha TV - que dava para ver só de rabo de olho - um filme de terror passava. Já “
Insaciável”, foi viajando: li na minha casa, no Rio de Janeiro, na casa de uma amiga, em São Paulo e até em Nova York, passando por lugares apontados no livro, o que me proporcionou – sem querer – uma experiência única. E a série “
Mediadora” foi totalmente diferente: li no quarto, debaixo das cobertas, só com a luz de leitura acesa (meus olhos sofreram, coitados). Acho que estava esperando o Jesse aparecer! :)
Mas além de ler, uma coisa que eu amo demais nessa experiência é descobrir o livro na prateleira da livraria. Entrar na loja com o coração batendo forte, procurando pelo livro que você sabe que acabou de sair da gráfica e, ao encontrá-lo, abrir aquele sorriso e segurá-lo nas mãos, como se fosse o mais valioso tesouro. Ou até ser surpreendida por um título interessante que o livreiro, ao observar seus interesses, indica sem pretensão. E você acaba amando! Parece coisa de maluco, mas quem curte livros talvez me entenda.
Compro meus livros on-line também, mas só quando são importados e não conseguiria encontrá-los em livrarias brasileiras. Receber a caixa em casa também é legal, mas o cheiro do papelão não se compara à experiência de ir buscar o livro pessoalmente. Mas, e se o dia chegar em que não teremos mais lugares para encontrar nossos livros? E se tudo se tornar apenas uma troca fria entre consumidor e loja, sem mais a troca de ideias dentro de uma livraria?
De uns tempos para cá, as editoras brasileiras têm organizado inúmeros eventos para lançar seus livros. Essa atitude não somente ajuda em divulgar os novos títulos, como também proporciona um verdadeiro fenômeno: o networking de amizades iniciadas dentro de livrarias e levadas para o resto da vida. Em cada evento, as livrarias lotam, as amizades se multiplicam e os livros são levados para casa com muito carinho. Sempre que posso, participo de vários eventos e não imagino mais meus finais de semana sem eles.
Por isso me entristeço com a situação da Borders. Tive a oportunidade de ir a duas lojas em Nova York ano passado – enquanto perambulava e lia “Insaciável” - e trouxe livros ótimos, alguns que só descobri por estar em uma livraria. Provavelmente não os teria conhecido em um compra on-line. Ainda participei de um evento de lançamento, peguei autógrafo, tomei café, conheci gente nova ... como faria isso on-line?
Sobrevive o mais adaptável e não o mais forte e sinto que, nesse contexto, acredito que Borders pode não ter se adaptado às mudanças de hábitos de consumo e de produção literária, que avançam a passos enormes a cada dia. Mas essa coluna não é para questionar o fator “administração” da Borders, mas sim o que isso pode representar no quesito “extinção de livrarias”.
E-books, kindles, nooks ... todos são válidos desde que as pessoas continuem a ler, mas uma experiência não invalida a outra. Abracem a tecnologia, mas não desprezem as livrarias. Nada substitui o contato humano, o cheirinho de livro novo, mesmo que ele venha a dividir espaço com programas de computadores, Blue-rays e etc.
Adeus, Borders, e obrigada pelos livros e pelas memórias.