31 de jul. de 2014

Galera entre letras: Brincando de traduzir

Há algum tempo, o site Timothy McSweeney’s INTERNET TENDENCY fez um post curioso sobre traduções de gêneros literários, e eu me inspirei neste post pro artigo de hoje. O original está aqui

Não sei se vocês já tinham pensado nisso, mas “traduzir” (isto é, mover de um lugar para outro) não é só verter de uma língua a outra. Existe também o que eu chamo de tradução “intralíngua”, isto é, num mesmo idioma, mas de uma linguagem (entendida aqui como “maneira de falar”) para outra.

Vou dar um exemplo bobo: entre si, os médicos se referem à sensação de dor na cabeça como “cefaleia”, mas, ao conversar com um paciente, chamam de “dor de cabeça”, que é a expressão que nós usamos cotidianamente para definir a tal sensação. E quantas vezes, depois de ouvirmos a explicação de alguém, pedimos que a pessoa traduza isso em termos mais corriqueiros?! Esses são exemplos de tradução “intralíngua”.

O curioso — e o post do INTERNET TENDENCY trata justamente disso — é que essa ideia de tradução “intralíngua” nos permite verter qualquer texto ou fala para outra “maneira de falar” relativa a uma determinada época, local ou, como no caso aqui, gênero literário.

Não tem segredo, e vocês podem fazer isso em casa também (pra quem quer ser tradutor ou trabalhar no mercado editorial, é um ótimo exercício, inclusive, por mostrar que nós sempre podemos mexer e melhorar um texto!).

Pensem numa frase. Aqui eu vou usar a mesma do site, que dizia:

“Eu comi um sanduíche e olhei pela janela.”

Agora vamos “traduzir” essa frase para outros gêneros literários, procurando acrescentar palavras ou expressões características desses gêneros sem, no entanto, perder a informação essencial, que é: “alguém comeu algo e olhou através de algo”.

Ficção Científica:
Coloquei as cápsulas nutritivas sabor sanduíche caseiro na língua e, enquanto as engolia, fitei o espaço do lado de fora do visor do foguete.

Fantasia:
Repousando nas costas de Dracos, meu dragão, após o combate, engoli rapidamente o pão velho e o queijo bolorento enquanto fitava a entrada da caverna na qual nos escondíamos.

Romance do Século XIX:
É uma verdade universalmente reconhecida que um solteirão, de inteligência acima da média, repassa mentalmente as candidatas à futura esposa enquanto mastiga o pão e fita a veneziana à espera de sua carruagem.

Jovem Adulto:
Eu engolia o sanduíche de queijo que encontrei na mochila (e que provavelmente fora deixado lá no último fim de semana) quando, de repente, John Eu-Não-Sei-O-Que-Deu-Em-Mim Smith apareceu na minha frente. Sem saber o que fazer, me virei e fitei a janela que dava para o estacionamento vazio do colégio.

Escolha a Sua Aventura:
Você comeu o sanduíche e agora gostaria de:
- Olhar a janela e ponderar sobre a vida (vá para a página 65)
- Mergulhar no rio, que provavelmente está infestado de piranhas (vá para a página 27)
- Beber um gole da garrafa onde se lê BEBA-ME e tirar um cochilo para ver o que vai acontecer (vá para a página 41)

Drama:
David, o menino órfão, que fora abandonado na frente da loja do Sr. Chuzzlewits, mordiscou o pão velho e agradeceu pela refeição. A primeira, em muitos dias. O pequeno, que entregava jornais na madrugada, observou o movimento da rua lá fora, que parecia não tomar conhecimento de suas tristezas, pela vitrine quebrada do armarinho.

Clássico Russo:
Enquanto Shanvokovic mergulhava o pão velho e ressecado na sopa, sorvendo as últimas gotas do líquido ralo com mãos trêmulas e cabeça baixa, como se a consciência pesada o obrigasse a fitar o chão em vez do prato, Gregorinoviczh mal tirava os olhos do vidro quebrado da janela. Lá fora, neve e o estampido dos canhões da Revolução.

Realismo Mágico:
Eu comi um sanduíche, fui até a janela e voei.
E então? O que vocês acharam?

(Espero que tenham gostado da brincadeira!)

30 de jul. de 2014

Galera Pop: Guardiões da Galáxia


Quem não torceu a cara quando a Marvel anunciou que faria Guardiões da Galáxia. Vamos lá, admita aí, você também, todos nós. “Guardiões da Galáxia, quem?”, perguntou quem só conhece herói Marvel famoso. “Guardiões da Galáxia, quem?”, perguntou o leitor mais assíduo, que teve que puxar da memória. Pois sim, o longa-metragem chegou e tornou as expressões de desprezo e descrença em queixos caídos. É o melhor filme da Marvel, como apregoaram aos quatro ventos? Não, Os Vingadores ainda é mais redondo como obra cinematográfica, mas com certeza Guardiões da Galáxia é o mais divertido e feito com mais carinho.

Antes de mais nada, a nota enciclopédica: esses Guardiões da Galáxia são inspirados na formação de 2008 para a saga cósmica Aniquilação, publicada pela Marvel. Quase não têm a ver com a formação original de 1969, a não ser pelo uso do alienígena azulado Yondu (Michael Rooker, de The Walking Dead), aqui como coadjuvante e não um dos guardiões em si. O grupo é formado por Senhor das Estrelas (Chris Pratt), Gamora (Zoe Saldana), Drax (Dave Bautista), Groot (voz de Vin Diesel) e Rocket (voz de Bradley Cooper), heróis improváveis envolvidos na caçada e proteção a um objeto de grande poder, não muito diferente do Cubo Cósmico/Tesseract que moveu a trama de Os Vingadores.

A história é um samba-do-marvete-doido e começa com uma overdose de informações diferente do ritmo mais didático de outros filmes do estúdio — até porque, se fosse muito informativo, levaria meia hora apenas na introdução dos elementos. A trama em si é um corre-corre a respeito de quem passa o adversário (ou mesmo o aliado) para trás, em nome da recompensa por um orbe de grande poder. De olho no objeto cobiçado estão Ronan, o Acusador (Lee Pace), e Thanos (Josh Brolin), no campo dos vilões. No caminho, por motivações variadas, estão os “Guardiões da Galáxia”.

Movido a citações de cultura pop (acredite: até Kevin Bacon entra no caldeirão), tiradas infames e humor de recreio, o roteiro dá espaço para a caracterização típica da Marvel, e é ai que Guardiões da Galáxia ganha uma força impressionante. Os Vingadores beneficiou-se dos filmes anteriores de cada herói: foi só juntar todo mundo e pronto, deu liga (sem ser da justiça). Aqui, cada guardião tem pouco tempo para vender seu peixe, e todo mundo sabe que o feirante ganha a freguesa no grito, no preço e no frescor da mercadoria. Então é de tirar o chapéu que Pratt, Saldana e Cooper tenham feito tanto em tão pouco tempo de tela, porém é mais admirável como Vin Diesel, trabalhando com uma única frase (“eu sou Groot”) impressiona tanto. . . e ainda mais admirável o que o brutamontes Dave Bautista consegue na tela. Ele rouba cenas atuando bem, passando emoção e humor, indo de ator dramático a cômico. É a surpresa em um filme que, por si só, já é surpreendente que tenha sido concebido, quanto mais executado dessa forma extremamente gaiata e divertida.

Em tempo: há cena pós-créditos, mas não foi exibida na sessão de imprensa. Fique de olho.

O trailer e outras informações estão no site oficial: http://www.marvelbrasil.com/guardioes-da-galaxia


25 de jul. de 2014

Papos de sexta: ABG dos romances


Você leu certo, é ABG: A de Alfa, B de Beta e G de Gama.
Se você é como eu e adora um bom romance — e aqui me refiro às histórias de amor e não às narrativas longas —, já deve ter percebido que os heróis dos livros dividem-se basicamente em três tipos:

Alfa - O dominante.
Exemplo: Homem de Ferro
Os traços mais marcantes desse herói são a liderança e competitividade. Ele assume frequentemente o controle da situação, puxando a responsabilidade para si, e é quem as pessoas procuram em situações problemáticas e nas tomadas de decisões.
O herói Alfa possui força física e costuma ser atraente — por consequência, é narcisista e arrogante. É teimoso e obstinado, às vezes rude ou vil, mas há sempre uma razão para ele ser assim (mesmo que seja apenas porque quer! rs).
Costuma ser possessivo e ciumento com as pessoas que ama, mas também é muito cuidadoso e preocupado, fazendo de tudo para protegê-los. Por vezes, seu comportamento dominante passa do ponto, cruza a linha do romântico ao abusivo, e pode torná-lo em vilão.
Um herói Alfa requer que a heroína tenha vida própria, ou ela vai estar para sempre à sua sombra.

Beta - O gente boa.
Exemplo: Homem-Aranha
É um herói mais brando, mais vulnerável e sensível do que um Alfa. Tende a ser mais intelectual e astuto, contando com inteligência e humor, em vez de força física. Não é necessariamente bonito ou alto, e costuma ter fraquezas e limitações.
O Beta é carinhoso, leal, modesto e despretensioso. Ele pode ser do tipo quieto ou descontraído, trabalha bem em equipe e prefere obedecer a comandar, geralmente auxiliando de maneira diplomática.
É um herói pacífico, embora esteja longe de ser um covarde. E apesar de demonstrar ciúme e possessividade, estes nunca são seus traços dominantes.
O herói Beta é frequentemente a segunda opção das heroínas. O típico “cara legal” ou “melhor amigo”.

Gama - O complexo.
Exemplo: Wolverine
Uma combinação dos traços de ambos. Esse herói apresenta a inteligência e sensibilidade do Beta, mas é impulsionado pela determinação do Alfa, principalmente quando se trata de proteger aqueles que ama.
A preocupação com os outros é seu traço mais marcante. O herói Gama demonstra laços fortes com seus amigos e família — e não apenas com a heroína, o que muitas vezes é mal interpretado como indiferença pela mocinha.
Ele se mantém na retaguarda, não procura a liderança — mesmo que claramente seja o mais indicado para tal função — mas frequentemente discorda do Alfa e não se conforma sob o seu domínio, um comportamento típico de anti-herói.
O Gama é um cara complexo, que passou por dificuldades ou traumas — e a heroína que se apaixonar por ele deve estar preparada para lutar contra seus demônios internos, bem como os inimigos externos. Ele se revela o herói perfeito uma vez que supera os obstáculos, mas muitas mocinhas desistem antes disso.

É isso! Não importa se é contemporâneo ou sobrenatural, young adult ou new adult, os romances costumam apresentar variações dos mesmos arquétipos. Qual deles é o seu favorito?

18 de jul. de 2014

Garoto vs. garoto

Oi gente, tudo bem? Como vocês sabem, há algum tempo postamos aqui essa capa de Garoto encontra garoto. Tivemos algumas reações positivas e outras nem tanto. O próprio David Levithan, quando viu a capa na matéria do Globo, gostou. Alguns de vocês também gostaram mas  outros reclamaram que não estava legal.


É impossível agradar a todos, mas nesse caso, resolvemos fazer outras opções de cor. Uma coisa que achamos importante (e que sabemos que vocês também acham) é que o livro precisa combinar com osoutros títulos do mesmo autor. Isso cria uma identidade para ele, além de ficar bonito nas prateleiras né? E por esse motivo, talvez o rosa estivesse destoando um pouco dos outros livros do Levithan.

Depois de muitos estudos, criamos duas outras opções para essa capa, além da opção rosa anterior:


E agora, a decisão é de vocês! Queremos saber qual dessas capas vocês preferem, e a vencedora será impressa, wohoo. Então corre lá no facebook da Galera e vote na favorita dando um like na sua escolha. A votação acaba na segunda, então não percam tempo hein? E que comece a grande batalha de capas!

Clique aqui para ver as opções!

Papos de sexta: Sonhos realizados


Todo mês, quando escrevo algo para vocês, eu me pergunto: “E agora, sobre o que falarei”? Desta vez, a resposta veio em formato de sonho. Dois, na verdade, muito parecidos, que tive na semana passada.

No primeiro deles, eu perdia um voo para São Paulo, chorava no aeroporto e dizia para o cara da companhia aérea que precisava estar na Bienal cedo ou não conseguiria senha para ver a Cassandra Clare. Ele ria de mim, dizendo que nem sabia quem era “essa cantora”, e eu discutia com ele, dizendo que ela não era cantora.

Então ia para rodoviária tentar pegar um ônibus. Depois de seis infinitas horas, quando eu chegava, os portões estavam fechados.  Eu dizia para o segurança: “Você tem que me deixar entrar! Eu vim do Rio só para isso!”, e ele me respondia que metade do povo que conseguiu entrar também não era de São Paulo, mas tinha chegado antes de abrir para conseguir a entrada. O sonho, que estava mais para pesadelo, terminava com várias amigas minhas saindo da Bienal sorrindo com o autógrafo de Cassandra, me mostrando as selfies que tiraram com a escritora. Acordei no susto e fui logo olhar minha passagem aérea, que é para um dia antes, e respirei aliviada.

O segundo sonho também era na Bienal. Nele, após um dia inteiro de filas e compras, meu namorado reclamava comigo que não tínhamos tido tempo para nós dois, e que por isso ele queria voltar para o hotel. Dar uma boa descansada, ver um filme...

Quando a gente voltava (e eu reclamando, óbvio), dizia para ele então para ao menos comermos por lá mesmo, que eu não queria sair.

O lado bom – e louco – do sonho é que, ao descer com ele para jantarmos no hotel, o garçom informava que o restaurante estaria fechado, pois tinha sido alugado somente naquela noite para um encontro de autores. Sentada e aborrecida, eu não aceitava arredar o pé de lá. Foi quando avistei um por um chegando e dando um “Hi” quando passavam por mim. Estavam todos lá: Cassandra Clare, Cecily Von Ziegesar, Scott Westerfeld, Meg Cabot, Justine Larbalestier, Diana Peterfreund, Lauren Kate, David Levithan e Colleen Hoover.

Claro que tinha que ter uma coisa ainda mais louca em meu sonho: nele, ainda saí correndo para uma livraria comprar os livros de todos eles para autografarem. Se o sonho era meu, claro que daria tempo.

Essa coluna foi só para contar um pouco de como estou ansiosa com a Bienal. Como a expectativa é boa e o clima é lindo quando chegamos pertinho do evento e o friozinho na barriga aumenta. Já vi de pertinho Meg Cabot, Cecily Von Ziegesar, Lauren Kate, Justine Larbalestier, Scott Westerfeld... e esse ano com certeza verei Cassandra Clare. Tem como não sonhar com esse momento? Que venha mais uma Bienal e que um dia eu possa conhecer David Levithan e Colleen Hoover!

17 de jul. de 2014

Galera entre letras: Entrevista com André Gordirro, tradutor da trilogia “Leviatã”, de Scott Westerfeld

Imaginem uma recriação da Primeira Guerra Mundial que mistura figuras históricas importantes e personagens fictícios com uma roupagem steampunk. E imaginem um conflito dominado por máquinas poderosas e animais gigantescos. Pois é, aí está o cenário criado por Scott Westerfeld para a trilogia Leviatã que, em breve, se encerra com a publicação de Golias: A Revelação (aqui tem um link com o primeiro capítulo do livro). 

Eu sempre fiquei muito curiosa com o processo de tradução da trilogia que, além de citar fatos históricos, isto é, eventos que realmente aconteceram e sobre os quais há uma infinidade de informações, cria seres fantásticos e diversos aparatos mecânicos que jamais existiram. Foi por essa razão que, para celebrar o centenário da Grande Guerra e o lançamento do último volume da trilogia Leviatã, eu entrevistei por e-mail ninguém menos que o tradutor da série: André Gordirro, que me contou como foi traduzir a série e como é o dia a dia dele quando está trabalhando.

Ana Resende: André, você poderia falar um pouco como foi o processo de tradução dos livros da trilogia Leviatã, e como é o seu processo de tradução em geral?
André Gordirro: Eu não fugi muito à regra geral de como encaro uma tradução. Basicamente, se não houver urgência, eu encaro dez páginas por dia, não importam a dificuldade ou a massa de texto. Obviamente, se o livro tiver pouco texto na página ou estiver fluindo bem (muitos diálogos, pouca pesquisa de termos específicos), acabo passando das dez, porque nunca se sabe o dia em que o tradutor estará gripado, de ressaca, com problema na pia da cozinha ou precisando levar os gatos ao veterinário. Já conhecendo o texto do Scott Westerfeld, eu sabia que tudo fluiria em diálogos naturalistas e que eu teria que exercitar a imaginação na adaptação de termos inventados por ele, o que sempre é um desafio legal.

A.R.: A trilogia Leviatã é ambientada na Primeira Guerra Mundial. Pra traduzir os livros, você chegou a pesquisar sobre o assunto? Ou já se interessava por ele?
A.G.: Minha mãe é professora de História e eu sempre me orgulhei em ter sido aluno nota 10 na matéria, então, eu tinha a Primeira Guerra Mundial na cabeça. Cheguei a visitá-la e pegar um livro didático com ela só para reler os capítulos e me recordar dos nomes em português das figuras históricas, mas, felizmente, tudo ainda estava na memória mesmo. Eu me interesso por todas as guerras, sou um general de sofá e soldado de mouse. 



Fatos históricos e ficção se misturam para criar uma versão alternativa da Primeira Guerra Mundial. Nas imagens acima, o carro do arquiduque Francisco Ferdinando e sua farda ensanguentada. O assassinato do arquiduque foi um dos acontecimentos que desencadeou a Primeira Guerra.

A.R.: Você traduziu autores como Cory Doctorow, Scott Westerfeld, e a Galera Record já anunciou a publicação de Brilhantes (Brilliance), do Markus Sakey, que vai virar filme em breve, e que foi traduzido por você. Você costuma escolher os livros que traduz? Ou pede pra traduzir um gênero específico, do qual gosta ou com o qual se sente mais à vontade?
A.G.: Eu não chego a escolher, mas tenho dado a sorte de receber livros que parecem ter sido escolhidos por mim mesmo. Acho que a responsável é a sintonia que a Galera Record sempre teve comigo, pois o pessoal sabe que curto ação/aventura, fantasia e ficção científica – e tudo o que se encaixe aí nas brechas dos rótulos. 

Tradutor e autor, juntos, no lançamento de Leviatã no Rio de Janeiro.

A.R.: Você tem vontade de traduzir algum livro ou algum autor que ainda não foi traduzido para o português? Poderia dizer quem é e por que gostaria de traduzi-lo?
A.G.: O Michael Moorcock e a série do Elric de Melniboné. Há uma edição antiga apenas do último capítulo da saga (não sei por que alguém lançaria, por exemplo, O Retorno do Rei [de J. R. R. Tolkien, A.R.] sem ter publicado A Sociedade do Anel e As Duas Torres, mas...), e até hoje o leitor brasileiro nunca teve o contato que merece com o personagem, além de ocasionais gibis traduzidos. Outro autor seria o Fritz Leiber e a saga de Lankhmar, estrelada pelos dois bufões, Fafhrd e Gray Mouser. Tanto o Leiber quanto o Moorcock são minhas inspirações como futuro escritor, e seria uma honra traduzi-los (até porque alguns livros eu sei de cabeça).

A.R.: Pra terminar, você costuma ler no seu tempo livre? Qual foi o último livro que você leu?
A.G.: O tempo livre, cada vez menor, já foi ocupado por mais leitura. Hoje acabo lendo mesmo os livros que traduzo. Vem aí um bacana, de não ficção, do qual não posso relevar o nome. E ainda luto contra o mais recente volume de As Crônicas de Gelo e Fogo, A Dança dos Dragões, porque, odeio admitir, está bem chato. Espero traduzir a continuação de Brilhantes, A Better World, porque foi uma das melhores leituras recentes (alô, Galera Record!). Viu, tem vezes que eu peço para traduzir um determinado livro. :) 

14 de jul. de 2014

Tons da galera: Lá vem... a noiva?

Em tempos de casamentos megalomaníacos como os de Kim Kardashian (levar a família e centenas de amigos para a Itália de jatinho? Moleza quando se tem 2,8 milhões de dólares para torrar), e a mais recente cerimônia de 1,4 milhão de dólares e duração de 4 dias de Jessica Simpson, num rancho alugado em Montecito, Califórnia só para o evento, parece que 2014 é o ano das noivas nada discretas, com exceção de poucas, como a musa de streetstyle Olivia Palermo, que se casou alguns dias atrás numa cerimônia para amigos próximos e familiares em Bedford, NY, usando um discreto Carolina Herrera.

Para comprovar a tendência crescente de noivas nada básicas, a semana de Alta Costura em Paris, semana passada, trouxe exemplos no mínimo inusitados. Mas calma que ainda tem espaço para as noivas princesas da Disney, e vamos contar aqui quem apostou no quê.

Apostaram nas princesas: Elie Saab, criador dos mais deslumbrantes e brilhantes vestidos de Oscar da vida, Georges Hobeika, Zuhair Murad e Dior, com looks inspirados em Maria Antonieta, rococó e corpetes sem manga de decote redondo, apostaram em noivas princesas tradicionais na hora de descer o altar... ops, a passarela.

Elie “suspiros” Saab, um Georges Hobeika que deixaria Grace Kelly orgulhosa, Zuhair Murad ousando, pero no mucho, com um pouco de prata e só, e Dior.


Investiram nas prafrentex: Bom, por onde começar? Chanel veio com uma noiva de ar medieval e grávida, com direito a vestido de neoprene! Já na Versace a moça veio futurista e assimétrica, e como se trata de Versace, pode colocar sexy na equação também, como de praxe. Giambatista Valli trouxe uma noiva de saia ombré branca e amarela e camisa com nó na cintura, inspirada nas divas dos anos 1940 como Lauren Bacall, enquanto Valentino se inspirou nos pré-rafaelitas e em deusas romanas para criações sem muitos bordados e sandália rasteira nos pés.

Grávida de Chanel, Versace em toda a sua glória e pele à mostra, Giambatista Valli de turbante e óculos escuros, e Valentino pré-rafaelita.

Guardando o melhor da extravagância para o final (eu avisei!), Giorgio Armani trouxe uma noiva gótica de preto, coberta por um véu que parecia repleto de estrelas ou planetas, e uma de vermelho, coberta por bolas. E finalmente Jean Paul Gaultier, prafrentex que só ele desde sempre, trouxe como noiva a drag queen Conchita Wurst, austríaco ganhador de um concurso de música de TV, com direito a vermelho, dourado e barba, por que não?

Armani preto e vermelho, e Jean Paul Gaultier com a incrível noiva barbada.

11 de jul. de 2014

Papos de sexta: O resto é ruído

“Se o mundo fosse vazio, eu poderia me concentrar melhor. Existem muitas coisas para os meus olhos verem.”

Poderia ser a passagem de um livro conceituado, mas foi dita pelo filho autista de uma amiga minha. Ele tem nove anos.

Além de ser extremamente profundo para um menino tão jovem e autista, achei incrível por ser tão verdadeiro para tantos de nós. A sensibilidade dele e a eloquência .... Existem adultos com doutorados que não têm essa capacidade de observação, muito menos de sentir dessa forma.

Não conheço muitas pessoas com autismo, ou talvez até conheça e nem saiba dessa condição, que é delicada, mas que não acredito ser uma deficiência. Acho que deficiência é termos o controle de todos os nossos sentidos e não utilizá-los com respeito a nós e aos outros. Deficiência é zombar de alguma diferença alheia. Deficiência é não enxergar além de si mesmo. Deficiência é não entender que embora sejamos um grão de areia no deserto, quando um grão de areia entra no olho, ele fere muito.

Estava em busca de um tema para o “Papos de Sexta” desse mês quando minha amiga dividiu comigo a frase que abre esta coluna. Seu filho é tão jovem, já enfrenta tantos desafios e ao buscar a justificativa para entender como ele pode vencer seus obstáculos, ele se mostrou artista. Sem pretensão de ser, sem o desejo de ser. Em duas frases, um menino que é muitas vezes tachado pela sociedade como sendo “incapaz” se mostrou mais sensível do que muitos e disse, em poucas palavras, o que muitos de nós já sentiram.

Em momentos de angústia, de provação, de busca, a sensação de estar nadando sem alcançar a praia é sufocante. Hoje em dia, temos a informação na ponta dos dedos, o que considero uma bênção e uma maldição. Temos que nos manter atualizados, conectados, informados, capacitados. Temos? Temos mesmo? Mas qual o foco? Para onde queremos ir? Por que correr e atirar para todos os lados se não queremos ir para todos os lados, fazer todas as coisas?

Quando não conseguimos abraçar tudo, fazer tudo, nos sentimos incompletos, incapazes. E ninguém nos diz que somos, mas nós acreditamos com tanta vontade que nos tornamos. Nós colocamos essa venda, essa mordaça que nos torna incapazes, que nos deixa deficientes. De que? De emoção? De capacidade?

O mundo é feito de escolhas, e, quando alcançamos uma conquista, abrimos mão de outras justamente para termos foco, para darmos valor. Não se pode ter tudo ou ser tudo não porque é impossível, mas porque não é necessário.

E isso, em um mundo onde tudo é comparado e mensurado em curtidas em redes sociais, é difícil de ser aceito por nós e por outros.

Como disse o meu querido jovem do início, “existem muitas coisas para os meus olhos verem.” Sim, existem, mas de muitas coisas que seus olhos veem, só algumas capturam o seu coração. Busque essas. Foque nessas. O resto é ruído.



9 de jul. de 2014

Papos de quarta: Capas favoritas da Galera Record

Não sei vocês, mas eu julgo um livro pela capa. Calma! Não quero dizer que vou deixar de ler um livro se a capa dele for "feia" (se for algo que realmente me interessa, faço um esforço), mas sempre procuro por edições mais bonitas (mesmo que sejam em inglês) para comprar. Ler é algo que, além de me relaxar, me inspira e por isso gosto de ficar inspirada com todos os aspectos do livro (isso, é claro, inclui a capa).
Quem mais é assim?

Bom, por causa disso, tenho muitas edições lindas na minha coleção (pois é, sou do tipo "babona" pelos meus livros hehe) e, como vocês devem imaginar, vários títulos são da Galera Record. Enquanto estava pensando em tags para o post desse mês tive a ideia de mostrar algumas das minhas capas favoritas publicadas pelo selo para mostrar pra vocês:

Zumbis X Unicórnios (Holly Black e Justine Larbakestier): essa capa é simplesmente maravilhosa! Foi amor à primeira vista. Lembro que me empolguei muito quando fui fazer as fotos para a resenha hehe

Todo dia (David Levithan): essa capa me da uma sensação tão "leve". Não sei bem como explicar sem parecer louca, mas é como se eu pudesse sair do meu corpo e cair em um nada infinito. Ok, isso realmente pareceu 

  1. muito poético 
  2. ou muito louco.

O garoto da casa ao lado | Garoto encontra garota (Meg Cabot): acho essas duas capas muito amorzinho. As cores são lindas, as fontes e os desenhos também. O terceiro livro da série tem a capa mais diferente (por isso acabei não incluindo na foto), mas gosto dela também.

Fator Nerd - contatos imediatos do primeiro amor (Andy Robb): essa capa me conquistou no dia em que divulgaram na fanpage da Galera. Tudo nela é lindo!

Penelope (Marilyn Kaye): sabe quando você gosta tanto de uma foto que deseja ter feito ela ou estar dentro dela? É isso que eu sinto toda vez que vejo a capa desse livro.

Os diários de Nick Twisp (C.D. Payne): esse é o único livro da lista que ainda não li, mas só pela capa já fiquei super empolgada (amo as cores dela). Quero ler ele logo porque fico imaginando várias fotos para ilustrar a resenha :)

Além de terem as capas lindas, todos os livros são ótimos e super recomendo a leitura deles (ok, só falta ler Os diários de Nick Twisp, mas vou recomendar mesmo assim ;D). Agora que já mostrei algumas das minhas capas favoritas, quero saber quais são as de vocês :)

Obrigada por tudo, pessoal!

xoxo

3 de jul. de 2014

Galera entre letras: Mapas da Guerra

Quem me conhece sabe a paixão que tenho por mapas.

Por mais objetivos que eles tenham que ser, os mapas delimitam as fronteiras imaginárias entre os países e seus acidentes geográficos bem reais, ou seja, a cartografia, apesar de toda a objetividade, tem um lado fantasioso também.

E nem vou mencionar a possibilidade de traçar mapas reais de lugares imaginários ou mapas que incluíam todos os perigos (leia-se: MONSTROS MARINHOS!, que supostamente habitavam as profundezas dos mares e oceanos), hein?

Só pra vocês terem uma ideia do que estou falando, vejam a Carta Marina, o primeiro mapa sobre as terras mais ao norte da Europa, feito no século XVI. Se vocês repararem, ali no cantinho esquerdo (de quem está na frente do monitor) tem um lagostão e algumas serpentes marinhas.


Os mapas, portanto, habitam essa região entre a fantasia e o real, entre o convencional e o efetivo. E dão margem, algumas vezes, à representação de preconceitos ou, ao contrário, à exacerbação da imagem que alguns povos têm de si mesmos.

Hoje serei uma mulher de poucas palavras porque, mais do que falar, eu quero mostrar pra vocês alguns mapas relacionados a um dos eventos mais importantes da história mundial: a Primeira Guerra Mundial ou Grande Guerra (como foi chamada até a Segunda Guerra).

Guerras sempre são eventos cruéis e dolorosos, que causam a perda de milhares (ou milhões) de vidas, mas a Primeira Guerra teve importância justamente por ser o primeiro grande conflito global, que mobilizou os países europeus, mas que teve consequências para todo o planeta.

Por outro lado, várias tecnologias foram criadas, a medicina evoluiu e os exércitos tiveram que se adaptar a condições bem diversas das que estavam acostumados. Vou dar um exemplo: todo mundo sabe que elefantes não são animais encontrados na Europa, mas os europeus, que já tinham colonizado África e Índia (locais onde os elefantes são encontrados) utilizaram esses animais para transportar cargas.

Formas mais rudimentares de transporte conviviam com as mais recentes invenções, saídas dos laboratórios dos cientistas e pesquisadores!


Mas voltemos ao que interessa: os mapas!
Eu vou mostrar pra vocês agora alguns mapas que circularam pela Europa um pouco antes ou durante a Grande Guerra (e já já vocês vão entender porque estou falando disso hoje!)

Este aqui é um dos mais curiosos: um mapa com os Cães da Guerra! Ao centro, um Dachshund, o famoso salsicha, conhecido por sua origem germânica. Todos os cães latem com fúria nesta ilustração, e os homens que aparecem na imagem controlam as frotas de navios e parecem esperar o resultado da briga dos cachorros. Vejam também, ali no canto direito, uma espécie de máquina a vapor (estamos falando do iniciozinho do século XX).


Aqui outro mapa, no qual as nações são representadas por homens amontoados e em posições distintas de ataque.


Pra finalizar, o fragmento de um mapa muito interessante, que mistura representações de animais e de homens (reparem que os uniformes dos exércitos: o alemão, o húngaro, o austríaco, reproduzem as principais características dos uniformes reais).

Mas esse tipo de mapa satírico ou caricato não foi privilégio só do século XX. Um dos mapas mais belos desse tipo foi feito há poucos anos. Sabem de que mapa eu estou falando?

Deste mapa aqui, feito pelo Keith Thompson, especialmente para a trilogia Leviatã, do Scott Westerfeld, que se passa justamente na época da Grande Guerra.


O Keith foi muito influenciado pelos mapas do início do século passado na hora de criar a ilustração que compõe a contracapa do livro. Reparem que ele volta a representar animais (mas o urso já não sai ileso e exibe parte da carcaça) e homens e figuras antropomorfizadas e armadas para retratar darwinistas e mekanistas com uma nítida pegada steampunk.

Espero que vocês tenham gostado das imagens!

E pra quem ainda não leu os dois primeiros volumes da trilogia do Scott Westerfeld, taí uma ótima oportunidade! Vamos falar mais um pouquinho dela da próxima vez.

2 de jul. de 2014

Galera Pop: As garotas do futebol – Some Girls

Época de Copa, até eu que não suporto futebol (foi mal, fãs) não consigo me conter e me empolgo MUITO com todo esse clima de festa. Gostando ou não, é um evento que envolve todo mundo de alguma forma. Já vi gente que era contra a Copa mudar de ideia (muita gente). E euzinha, que não tenho lá muita paciência para aqueles 90 minutinhos na tv (são quase 4 episódios de uma série de comédia!), já fui a 5 jogos!!! E quero mais, se eu conseguir ingressos hahahaha! Gente de todo canto do mundo, todo mundo torcendo, novas amizades... É tudo tão bom que não devia durar só um mês! Queria Copa o ano todo. Mas, calma, Nanda. Não estou aqui para falar da Copa e das festividades. Na verdade, o futebol foi a inspiração para a série que vou indicar hoje para vocês:

SOME GIRLS

Quem já me acompanha por aqui sabe que eu sou #fanzoca de séries inglesas, e essa é mais uma delas. Some Girls é uma comédia que acompanha a rotina de Amber (Alice Felgate), Holli (Natasha Jones), Saz (Mandeep Dhillon) e Viva (Adelayo Adedayo), quatro adolescentes que fazem parte de uma equipe de futebol de uma escola só para mulheres. Aí vêm os clichês que eu adoro, a Holli, chav (leiam O Diário de uma Encrenqueira para mais detalhes sobre o termo) que faz pose de durona, mas tem bom coração. Amber, típica loira bobinha, coitada. Ela inventa cada palavra que você tem que voltar praticamente todas as suas falas para entender hahahahaha. Saz é a moça de família indiana desbocada, apesar de seguir as tradições e costumes que os pais impõem, ela é uma onça! Xinga e bate em todo mundo e é louca para se rebelar. 

Viva é a nossa protagonista, inteligente, bonita e apaixonada. Coitada. Sofre com o irmão adolescente babaca e a madrasta australiana que é uma bruxa, que para completar é a técnica do time das meninas.

O que eu mais gosto em Some Girls é a normalidade das garotas. Não são loucas supersexualizadas e movidas a drogas como em Skins, não tem tantos problemas como a Rae de My Mad Fat Diary ou são um bando de garotos bestas e pervertidos como em The Inbetweeners. Elas tem problemas, se divertem, se apaixonam, bebem, fazem sexo, ficam de castigo (hahahahaha), ganham e perdem jogos nas partidas de futebol e tudo isso é mostrado de uma forma bem leve e divertida. Para gente curtir mesmo: não tem aquele sofrimento ou é só palhaçada. 

Viva, Holli, Saz e Amber ARRASAM!

E para felicidade geral da nação, ou a minha e a dos adolescentes britânicos pelo menos, a série já foi renovada para a terceira temporada. 

Vale a pena a pena assistir viu? São só seis episódios por temporada, você nem vai gastar muito tempo, vai rir muito e aprender umas gírias que nunca vi nem em Skins (ou qualquer série adolescente inglesa hahahaha). Deem uma chance para a Viva e o futebol das meninas vai...