13 de ago. de 2015

Galera entre letras: Bob, o Gato

Hoje eu ainda vou falar sobre a relação entre gatos e autores. E escolhi uma história muito curiosa pra contar pra vocês. A história é tão curiosa que quase me levou a escrever um conto infantil meio macabro (rs). Eu adoro contos góticos e achei que dava um bom texto!

Acho que vocês já sabem da minha paixão por Charles Dickens, né? Volta e meia eu arrumo uma desculpa pra falar dele. Aqui e aqui, por exemplo.

E hoje não vai ser diferente. Pois o gato e o autor em questão são Bob e Dickens, respectivamente. Bob recebeu este nome por causa de um personagem do conto mais famoso de seu dono, O Conto de Natal. Dickens sempre foi afeiçoado a animais e não são poucas as menções a gatos e cães em sua obra.

Mas Bob, de acordo com Mamie, tal como a filha de Dickens comenta em seu livro de memórias, era um gato especial. Surdo, era a companhia preferida de Dickens em seus passeios ao jardim e se comportava como um cãozinho pequeno, chamando constantemente a atenção do dono e pedindo seu carinho.

Eu costumo imaginar os passeios de Bob com seu dono. Dickens, muito curioso, enumerava cada planta que avistava em seu jardim, e Bob, embora surdo, acompanhava tudo com seus olhos grandes e não perdia um único gesto do dono, que ora apontava para uma flor de coloração exótica, ora apontava para uma erva-daninha. Quando Dickens arrancava a erva-daninha, lá ia Bob cheirar a planta e esfregava a testa na mão do dono, como se estivesse enciumado da atenção dedicada ao jardim. E quando Dickens saía em suas famosas caminhadas noturnas, Bob o acompanhava em silêncio até a porta e não arredava pé até que o dono retornasse.

Em suas caminhadas, Dickens costumava ver os tipos humanos que o inspiravam em suas obras e não era raro que ele voltasse cansado e entristecido. Às vezes, ainda se via em seu rosto o rastro de alguma lágrima fugidia iluminado pela luz da lua. Mas ele sempre era recebido por Bob da mesma maneira. Assim que abriam a porta, Bob ia até o dono e se esfregava em suas pernas, como se dissesse a Dickens que sabia muito bem o que ele tinha visto lá fora. E quando o autor se sentava para registrar algum fato ou anedota para a próxima história, lá estava Bob a seu lado.

Mas, apesar das vidas extras, um dia Bob não saiu mais para passear com seu dono pelo jardim. E Dickens, muito triste, resolveu eternizar aquele amigo e companheiro de tantos anos. E essa é a parte “bizarra” da história da amizade entre Bob e Dickens. Certo de que queria ter Bob a seu lado pelo resto da vida, Dickens resolveu empalhar a pata do gato e transformá-la num abridor de cartas, assim, seu amigo felino continuaria a lhe fazer companhia.

Eu confesso que acho essa história emocionante não só pelo amor de Dickens ao Bob, mas, sobretudo, porque é o retrato de uma época extremamente curiosa em relação à ciência e aos inventos científicos e não por acaso é considerada a época de ouro da taxidermia, isto é, da técnica de empalhar animais!

Espero que vocês tenham gostado da curiosa história da amizade de Bob e Dickens! Até a próxima!


No abridor de cartas tem a seguinte inscrição: “C.D. [Charles Dickens] Em memória de Bob 1862." 

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