20 de nov. de 2015

Papos de Sexta: Empatia



Tinha planejado outra pauta para o “Papo de Sexta” desse mês, mas o que tenho visto nas redes sociais me fez mudar de ideia. Infelizmente, essa coluna será um pouco mais séria, mas acho que o momento pede essa pausa nos emoticons de sorrisos.

Segundo a definição do Dicionário Michaelis, empatia é “Na psicanálise, estado de espírito no qual uma pessoa se identifica com outra, presumindo sentir o que esta está sentindo”. Sentimos isso diariamente quando lemos certo? Acho que a empatia é o que nos cria o vínculo de identificação com personagens. Quem passou por bullying, entende o que Audrey narra em “À procura de Audrey”. Quem é autêntica e sofre um pouco com isso entende o que Sofia passa em “Perdida”. Quem já teve que assumir grandes responsabilidades mais cedo do que deveria, entende o que Will passa em “Métrica”. E esses são apenas alguns dos inúmeros exemplos que poderia citar falando superficialmente sobre o tema. 

Mas, quando tiramos a literatura da equação e voltamos nossa atenção para o mundo fora das páginas, o cenário muda. Infelizmente.

Desastres, tragédias, violência... Nosso mundo, nossa história é repleta disso. O problema é que parece que já nos acostumamos com isso. É considerado “normal” pessoas que moram em áreas de risco serem alvejadas por balas perdidas. É considerado “normal” pessoas no Oriente Médio viverem com medo por causa de homens-bomba. Mas deveria? Deveria ser normal não sentirmos empatia por seres humanos que não deveriam estar nessas condições, mas que sobrevivem a elas por não terem outra opção?

Aí um mar de lama arrasta o que vê pela frente em uma cidade no Brasil. Mar de lama esse que foi criado pelas mãos do homem, pela mineração, e que agora não arrasta dinheiro, mas vidas.

Aí extremistas distorcem uma fé e matam pessoas que nada tem a ver com a situação em uma das capitais mais famosas do mundo.

E no lugar de sentir empatia por ambos e fazer o possível para ajudar quem ficou por aqui, de entender o que causou ambas as tragédias, apontamos o dedo e julgamos quem sabe mais sobre o que aconteceu em Paris e menos sobre o que aconteceu em Mariana. Ou vice-versa.

O resultado é a criação de uma outra situação: a sinfonia de “mimimi” — ou melhor, de “MeMeMe” — nas redes sociais. Essas redes que deveriam conectar e compartilhar estão sendo usadas para julgar, ofender e propagar ódio. E esse ódio poderia ser evitado facilmente. Basta sentir empatia e ouvir o outro para entender e não apenas para responder.

Parece que as pessoas estão mais preocupadas em julgar a opinião alheia sobre um acontecimento e impor a sua, do que realmente se importar com o acontecimento em si. E isso é muito louco!

Longe de mim querer pregar alguma coisa, até porque tenho plena consciência de que faço menos do que deveria. Mas uma coisa eu aprendi: quando eu aponto um dedo, tenho os outros apontados pra mim.

A minha ideia com essa coluna foi pedir uma coisinha a todos que chegaram até aqui: empatia. Antes de bradar a própria opinião, se coloque no lugar do outro, entenda, reflita e aí sim forme a sua.

Hoje, com avanços tecnológicos que colocam incontáveis quantidades de informação na palma da nossa mão, nos dando a possibilidade de estar conectados com o mundo todo, todo tempo, fazemos o oposto. Ralhamos a torto e a direito sem fundamento e estamos cada vez mais desconectados com o que acontece ao nosso redor, do outro lado da nossa porta. O único brilho em nossos olhos vem das telas à nossa frente. 

Todos merecem o direito de se expressar e todos devem sim ter a própria opinião. Mas vamos tentar entender mais e odiar menos. Entender não é aceitar ou concordar. Entender é entender. E por mais que isso pareça simples, faz a maior diferença.



Chega de mascarar o preconceito e o julgamento com “ah, mas essa é minha opinião”. Opinião não é só gosto “prefiro o rosa ao roxo”. Opinião é utilizar argumentos e bom senso levando em consideração o outro e o contexto maior.

Então, antes de responder a pergunta do Facebook “No que você está pensando”, vamos realmente parar para pensar, refletir, antes de entrar no automático e somente repetir o “curte/comenta/compartilha”.

Mais empatia, por favor. Para todos nós e por todos nós!


Um comentário:

Raffafust disse...

Oi Frini
com a vida corrida desse mês somente agora pude parar e ler sua coluna. Que incrível, penso exatamente como vc. As redes sociais as vezes me cansam, é tanta gente ignorante que não sei se bloqueio só do FB ou da vida. O famoso " é o que eu penso" virou desculpa para atitudes babacas e menos respeito. Por um mundo onde as pessoas pensem antes de digitar no teclado tanta M*
Beijos