Sei que fevereiro é o mês da folia, mas também sei que alguns temas sérios precisam ser discutidos sempre. Este é um desses casos. Peço que, por alguns momentos, guardem o confete e a serpentina.
Constantemente conectados, estamos sempre curtindo posts, compartilhando fotos de viagens, fazendo planos para comprar uma coisa ou outra, colocando os highlights da nossa vida da internet. Mas e os bastidores? E as noites mal dormidas por causa daquela briga? E a batalha com a balança que fere a autoestima? E a “amiga” invejosa que nos faz questionar nossas opiniões? E o cara que disse que ligava e sumiu? E a sua família e amigos que não aceitam a pessoa que você decidiu amar só porque vocês têm o mesmo gênero? E .... ninguém compartilha isso, né?
É como se existisse essa obrigação de ser feliz, de estar bem sempre. Posso postar sobre uma reclamação mais rebelde e ganharei “curtidas”, mas se postar sobre o que realmente me fere, estarei me expondo e eu não quero isso. Mas se eu filtro o que coloco no ar, é essencial que quem vê também tenha consciência desse filtro. Sem essa informação, é muito perigoso mergulhar nas redes sociais. Comparar a sua vida – e os seus bastidores – com os highlights dos outros, abre uma porta que parece boba, à primeira vista, mas pode ser complicada e um possível caminho para a depressão.
E a depressão não é frescura. Ela é um pássaro que posa nos seus ombros e pesa, pesa até você não aguentar mais. Mas esse pássaro é invisível para os outros e só aparece para eles por meio das suas atitudes. E ele é malicioso, ele te faz mentir. Quando perguntam se você está bem, se você precisa de alguma coisa, essa ave te faz dizer que não, que tudo bem, que você está ótima. Só que não é verdade. E aí ele cresce, e pesa mais, e você se sente mais sozinho e incapaz de continuar.
Até que, para algumas pessoas, essa ave faz esquecer da luz. Ela te faz acreditar que não tem volta, que você não vai sorrir mais, que você não é o suficiente, que você não importa. Aí, ao entrar nas redes sociais, você vê sorrisos, corpos na praia, relacionamentos sérios, viagens e compara com a sua vida que, de repente, está embaixo das asas da depressão.
E aí fim.
Fim, porque a dor é grande demais para suportar. Fim, porque você não consegue falar o que está sentindo, pois isso seria considerado fraqueza. E depois do fim é muito tarde para entender que a culpa não é das redes sociais, nem da ave, nem sua. Não existe culpa porque não existe culpado. Existem fatos e interpretações e sentimentos e como nós priorizamos cada um deles.
Ao pesquisar para essa coluna, encontrei um dado alarmante: no Brasil, a taxa de suicídio entre adolescentes cresceu mais de 30% nos últimos 25 anos. Outros países que fizeram campanhas sobre o tema conseguiram salvar vidas, mas nós não. Não falamos sobre isso. Porque a palavra “suicídio” vem junto de palavras como “covardia” e “vergonha”.
Por que?
Em minha opinião – e que fique claro que não sou psicóloga ou perita no assunto –, tirar a própria vida não é covardia, é desespero profundo, e pessoas desesperadas precisam de ajuda e não de julgamento. Vergonha é saber de um problema e fechar os olhos para ele. Vergonha é não ajudar. O silêncio fere. Quem está sofrendo com o peso da ave precisa falar para alguém, precisa se abrir. E é preciso que esse alguém não julgue, mas que escute, que ajude.
Temos tanto a aprender, a ensinar, a vivenciar. A vida é como matemática: se está fácil, tá errado! E que delícia errar e crescer! Não sou forte, não sou valente, sou humana e já senti o peso dessa ave, já entendi como ela funciona e, graças a Deus, a exterminei. Mas essa espécie ameaça voltar e é preciso estar sempre vigilante. É preciso falar sobre o assunto e não calar.
Ninguém é perfeito. Você não precisa ser a mais magra, o mais rico, o mais repleto de amigos, o que tem o namorado ou a namorada perfeita. Você só precisa ser feliz na própria pele e isso depende de você. Não importa se você tem cicatrizes ou se estava pensando em criá-las. Procure alguém para te ajudar. Mande o pássaro da depressão embora. Você tem esse poder, todos têm, de uma forma ou de outra. Mas nunca ao custo de nossa própria existência.
Em uma época onde tudo e todos estão conectados, apague a tela e segure a mão de alguém. Desligue o celular e olhe nos olhos do amigo. Cuide, abrace, ajude a sarar, evite o pouso da depressão.
A razão para esse post aqui no blog da Galera é que, ao longo da minha vida literária, conheci alguns leitores que estavam - e alguns ainda estão - lidando com a depressão. Alguns já se feriram, outros, infelizmente, não estão mais conosco, mas muitos conseguiram conquistar o sorriso de volta. Esse post é uma maneira um pouco longa de dizer “você não está sozinho” aos leitores que podem estar sentindo o peso desse pássaro.
Somos apaixonados por livros, somos sensíveis e muitas vezes nos perdemos nas páginas de histórias para não encarar a nossa. Outras vezes encontramos em personagens fictícios a força para encarar situações e transformá-las. Se perder em livros incríveis ajuda a ganhar perspectiva, força, mas é fora das páginas que a vida acontece e lá você é o protagonista. A sua história é você quem faz.